- Não há coração de pedra-
- Amar de frente. Amar até a fronteira-
- Falar com o fogo da face -
- O passado não é Agora-
- No quarto de escrever cabe o Outro -
- A escrita se dá a ver no rito-
- Não somos feitos à distância-
- Sou este pequeno sim-
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Aquele lugar no meio da sala,
na perna de sua mãe,
no horizonte da cama de cima,
no canto de seu irmão.
Sim, é aqui, a natureza entrando
sem distinção entre lavar, colher, secar, plantar
que a mulher se lembrou de olhar para o espírito do homem
onde o amor não se alimenta de espécies raras
onde amor se alimenta do verme encarnado debaixo da pia
Seu alimento é digestão
No mapa rijo da musculatura no rosto de um animal
Ambos cuidam de si
na perna de sua mãe,
no horizonte da cama de cima,
no canto de seu irmão.
Sim, é aqui, a natureza entrando
sem distinção entre lavar, colher, secar, plantar
que a mulher se lembrou de olhar para o espírito do homem
onde o amor não se alimenta de espécies raras
onde amor se alimenta do verme encarnado debaixo da pia
Seu alimento é digestão
No mapa rijo da musculatura no rosto de um animal
Ambos cuidam de si
A menor planta possível, apontada para o alto
eis um novo quarto de escrever
para a alma que não é imagem.
A porta é vermelha
da mesma cor que a camisa de sua serva.
Seu bolso contém
uma prega na memória, agarrada
ao recado afetivo do pai.
Aqui a cadeira se mistura à planta
e todo o nome mergulha-se no tanque
antes de ressoar à linguagem dos pássaros e dos animais.
A textura de sua pele
correspondia ao abraço do dia
que sempre terceiro, Ressuscita-se.
eis um novo quarto de escrever
para a alma que não é imagem.
A porta é vermelha
da mesma cor que a camisa de sua serva.
Seu bolso contém
uma prega na memória, agarrada
ao recado afetivo do pai.
Aqui a cadeira se mistura à planta
e todo o nome mergulha-se no tanque
antes de ressoar à linguagem dos pássaros e dos animais.
A textura de sua pele
correspondia ao abraço do dia
que sempre terceiro, Ressuscita-se.
“Há cores no jardim sem que saibamos seus nomes”. Disse-me.
Respondo-lhe que de certo modo isso já havia acontecido antes. Lembra-te dos teus irmãos que se reproduzem, amam, levantam e adoecem? E o quanto isso se desdobra em ti?
A porta da origem segue aberta. Não tocamos.
E eis que ela rangerá o espírito.
Respondo-lhe que de certo modo isso já havia acontecido antes. Lembra-te dos teus irmãos que se reproduzem, amam, levantam e adoecem? E o quanto isso se desdobra em ti?
A porta da origem segue aberta. Não tocamos.
E eis que ela rangerá o espírito.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
chamarei a pele de voz, se assim me permitir,
Estou diante de ti
e estamos a conversar com o que fizemos no jardim. Com o jardim. Somente
Deixa que
tenho uma pedra cinza a cavar. Ofereço-te
Com as unhas gigantes que pedi emprestada ao jardineiro
Estou naquele quarto em que se trancara, mãe. Para ensinar-me que o homem nasce de uma de voz.
Estou diante de ti
e estamos a conversar com o que fizemos no jardim. Com o jardim. Somente
Deixa que
tenho uma pedra cinza a cavar. Ofereço-te
Com as unhas gigantes que pedi emprestada ao jardineiro
Estou naquele quarto em que se trancara, mãe. Para ensinar-me que o homem nasce de uma de voz.
Calçado, calçada, caçada - conversa com Marcelo Ariel
A. Quando sua mão escreve, você está a aproximar-se de algo?
M. Sim, de um calor nos pés. Às vezes quando escrevo poemas ou quando leio em voz alta alguns dos 'salmos de david', tenho a sensação de que meus pés estão descalços, mesmo que eu esteja calçado, de que eles estão plantados nas águas de um oceano. Um oceano de águas quentes, talvez com o Sol no fundo. Certamente é isso, há um Sol no fundo do mar. existe a armadilha de projetar o sagrado nas palavras, e durante muito tempo, como um morcego preso pelo rabo em uma ratoeira, me sentia preso na tentativa de dar um sentido metafísico para a linguagem cotidiana, atualmente tenho a convicção de que 'A palavra' escrita ou falada é o 'reino do demônio' e que escrevendo podemos passar por elas como se atravessássemos uma ponte até chegar a um silêncio edênico, que começa nos ossos dos pés, até explodir na cabeça como uma auréola, por onde saí e sobe aos céus. Quando este silêncio quente chega no coração, todas as palavras se dissolvem e nesse vazio-transparência podemos finalmente nos aproximarmos do que não pode ser dito, daquilo que nos Evangelhos é chamado de O Verbo, o que torna possível a existência do 'paraíso' no mundo e não o oposto. Não podemos nos aproximar desse silêncio solar se estamos em algum lugar fora do mundo, muitos amigos meus poetas, escrevem sua procura a partir de algum lugar fora do mundo, e isto torna difícil a sensação viva da existência do Éden, viva como o toque da mão do feto na placenta. Estudo muito 'A Bíblia ' e dia-após-dia sei cada vez menos e sinto cada vez mais, por exemplo, senti anteontem que a resposta a Jó, pode ser resumida como a lembrança vivíssima de que um dia fomos apenas uma simples célula, esta célula teve acesa dentro dela a sensação viva do éden e sentiu a nossa presença, do mesmo modo, podemos sentir o silêncio e o rastro harmônico do éden, como um lugar depois de todas as palavras. Há um poema de Hans Eszemberger que discute essa questão de um modo mais pragmático, diz o poema que quando alguém está feliz jamais pensa na palavra felicidade, de igual modo, estamos no Éden, se nos aproximamos do éden, houve um prisioneiro que atravessou um campo de concentração ao meio dia e antes de levar um tiro na cabeça, sentiu o Éden, como algo um milhão de vezes mais real do que o regime nazista, do que o próprio campo de concentração. Existe também um campo de concentração das palavras e dele nos afastamos, sem a necessidade da morte como extensão do Ser, para a filosofia concreta, nenhuma criatura finita tem acesso ao Ser, discordo com todas as minhas forças desse enunciado.
A. Do quê/quem você é íntimo?
M. Do estranhamento-amor, ele é como uma névoa prateada que não queima quando chegam os primeiros raios da manhã edênica, insisto muito no éden, porque ele não é uma ideia.
A. Há amizade entre o homem escritor e o homem civil?
M. Sim, através do Poema desaparece a separação entre uma coisa que vê e a coisa vista, sou inimigo da visão dicotômica entre vida e literatura, tenho a profunda fé na fusão entre Hamlet e Shakespeare, Hamlet escreveu todas as peças de Shakespeare. Um cão é um cão-lobo e não um lobo-cão.
A. Qual a sua espinha? Com o quê/quem conversa?
M. Com o Querubim, ora é um cão, ora é uma criança, ora é um lobo, ora é uma árvore que fala .O Ser é uma pergunta-resposta?
A. O que aprendeu escrevendo?
M. Escrevendo aprendi a ler, do mesmo modo, quando alguém ama , aprende a escutar.
A. Há impropriedade?
M. Na dúvida, sim. Este trabalho que fazemos exige uma fé para além do pensamento e da palavra. Mas existem os que vivem no reino do entre e nesse caso as impropriedades são constantes e absurdas.
A. Como você lê? Você é leitor do que escreve? Como vê aqueles que e lêem?
M. Não saber e não ver são atributos da fé. Não sei o que é e não vejo o quê me lê. Não sei quem são, nem o que são. Mas sei de um modo sobrenatural que eles estão perto de mim, estou do outro lado da calçada na rua que aparece nos sonhos deles, sejam eles computadores ou pessoas, árvores ou nuvens, pedras ou lagos.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Llansol
da mulher que aos poucos deitou a rotina do dia em escrita,
trago notícias
do tempo em que ver era
a amizade entre o milagre e a espera
eu te traria nos braços, amor
se a certeza não fosse uma criança veloz
é madrugada
e meu corpo vai traindo-se em direção ao feto
nossos olhos não se tocaram
e ela me responde em fotografia:
"-estás na metade do diálogo.
haverá que colocar teu campo de escrita nas costas:
sairá sem ti
voltarás sem ti
e a musculatura do encontro irromperá a folha."
trago notícias
do tempo em que ver era
a amizade entre o milagre e a espera
eu te traria nos braços, amor
se a certeza não fosse uma criança veloz
é madrugada
e meu corpo vai traindo-se em direção ao feto
nossos olhos não se tocaram
e ela me responde em fotografia:
"-estás na metade do diálogo.
haverá que colocar teu campo de escrita nas costas:
sairá sem ti
voltarás sem ti
e a musculatura do encontro irromperá a folha."
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Tarkovski pediu minha mão e disse:
é que o poeta ainda não subiu no segundo degrau da imagem
por isso seus pés soam tão leves ao chão
por isso seus pés soam tão leves ao chão
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
um novo romance- em capítulos-
-uma estranha vontade de usar o que tenho-
-a mulher que morri-
-é para isto que vim-
-erguer a cabeça para fora da lama e...-
-um raio de beija-flor azul marinho-
-tenho vontade de instalar-me-
-a escrita era meu pássaro-
-eis a estética do provável-
-não chamarei de mistério, o mistério
-é a saída para o homem que não dorme-
-este capim não se entrega facilmente à água-
-porque és liberto, jardim-
-o que fazer com as sementes na boca-
-olha a sobra da tinta na parede e pensa: um quadro fora pintado ali-
-pois cultivo aquilo que não sou nem feminina nem masculina-
-a mulher que morri-
-é para isto que vim-
-erguer a cabeça para fora da lama e...-
-um raio de beija-flor azul marinho-
-tenho vontade de instalar-me-
-a escrita era meu pássaro-
-eis a estética do provável-
-não chamarei de mistério, o mistério
-é a saída para o homem que não dorme-
-este capim não se entrega facilmente à água-
-porque és liberto, jardim-
-o que fazer com as sementes na boca-
-olha a sobra da tinta na parede e pensa: um quadro fora pintado ali-
-pois cultivo aquilo que não sou nem feminina nem masculina-
por hoje, e por nós
"não tinham lido Bernanos mas sabiam desde o berço que quem
é rico explora, quem explora torna-se esperto,
esperto e explora fundem-se em experto, perito,
quem se torna perito não acede ao conhecimento mas às tripas
dos pobres,
quem as tiver na mão tem praticamente todos os valores que
contam,
com esses valores é um jogo de oportunidades transformá-los
em bens onde não é visível qualquer rasto de sangue. Não faltam
profissões de peritos para transformar esse elo em elo perdido.
Desaparecem rastos e provas." Maria Gabriela Llansol
é rico explora, quem explora torna-se esperto,
esperto e explora fundem-se em experto, perito,
quem se torna perito não acede ao conhecimento mas às tripas
dos pobres,
quem as tiver na mão tem praticamente todos os valores que
contam,
com esses valores é um jogo de oportunidades transformá-los
em bens onde não é visível qualquer rasto de sangue. Não faltam
profissões de peritos para transformar esse elo em elo perdido.
Desaparecem rastos e provas." Maria Gabriela Llansol
Os cabelos, as mãos, as partituras da imagem
Tarkovski estava dormindo e me pedia um caderno. Dizia para que ficasse mais em casa, mesmo quando na rua,
Cuidando da cor dos meus olhos
Ele se mostrava e se escondia.
“O mundo não virá até você”, dizia. Sustenta as imagens e as palavras em si, retira delas o seu “i”.
(na partitura da outra infância, infância da sobra de um contorno)
Nela, o pai ajuda a dividir.
Cuidando da cor dos meus olhos
Ele se mostrava e se escondia.
“O mundo não virá até você”, dizia. Sustenta as imagens e as palavras em si, retira delas o seu “i”.
(na partitura da outra infância, infância da sobra de um contorno)
Nela, o pai ajuda a dividir.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Escrevo sentada para a morte
Após o terceiro dia, a casa empedrada apontava para
o cheiro do leite, a alimentação recém nascida que segurava o sono masculino
virtude e tempo molhado contaminam-se
há frio nas casas e pergunto se é apenas isso o poema
escrevo ameaçada de morte
apenas isso
enquanto a senhora da luva azul insere uma meia em cada frase
era lúcida a nossa conversa de lã
o poema e a morte estão por um triz
a noite masculina de blusa azul
divide com os pássaros a metade de uma conversa
há quanto tempo não dormimos numa certeza?
o coágulo amordaçado no quarto
a espera de um futuro
entorna o leite do poema
dái-nos a luva azul, senhora
para tocar no frio na letra, ò mãe
Após o terceiro dia, a casa empedrada apontava para
o cheiro do leite, a alimentação recém nascida que segurava o sono masculino
virtude e tempo molhado contaminam-se
há frio nas casas e pergunto se é apenas isso o poema
escrevo ameaçada de morte
apenas isso
enquanto a senhora da luva azul insere uma meia em cada frase
era lúcida a nossa conversa de lã
o poema e a morte estão por um triz
a noite masculina de blusa azul
divide com os pássaros a metade de uma conversa
há quanto tempo não dormimos numa certeza?
o coágulo amordaçado no quarto
a espera de um futuro
entorna o leite do poema
dái-nos a luva azul, senhora
para tocar no frio na letra, ò mãe
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
uma casca, um telhado ou um poema
luta pelo destino da página
escreve com a boca de uma criança
perfura a fruta no desejo do pássaro
interroga o sexo das flores
e diz à chuva: não apavore nossas casas.
A vida precisa remar.
escreve com a boca de uma criança
perfura a fruta no desejo do pássaro
interroga o sexo das flores
e diz à chuva: não apavore nossas casas.
A vida precisa remar.
domingo, 13 de novembro de 2011
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
[da saudade]
Meu irmão foi meu primeiro professor de literatura. Era difícil aceitar seu amor pelo mineral e a sua vontade de dormir ao chão. Tirava o sorriso de dentro da pedra. Era possível contar nos dedos os momentos que dela saía para estar comigo. Mas vinha.
Com ele conheci minha primeira estante. Em meio aos caóticos livros habitados num pequeno quarto, havia os escolhidos por ele, sublinhados com a lapiseira fina de seu silêncio. Era seu modo branco de saudar a vida. Para quem quisesse escutar.
Íamos felizes à padaria. Eu, descalça, em estado bruto. Ele, esculpido em corpo. Tínhamos as mãos atadas. E foi aí que entrei na escrita. Para ter com ele a mão na pedra, a buscar o fermento para umedecer, partir e ferir a pedra. E dela sair o pão.
Com ele conheci minha primeira estante. Em meio aos caóticos livros habitados num pequeno quarto, havia os escolhidos por ele, sublinhados com a lapiseira fina de seu silêncio. Era seu modo branco de saudar a vida. Para quem quisesse escutar.
Íamos felizes à padaria. Eu, descalça, em estado bruto. Ele, esculpido em corpo. Tínhamos as mãos atadas. E foi aí que entrei na escrita. Para ter com ele a mão na pedra, a buscar o fermento para umedecer, partir e ferir a pedra. E dela sair o pão.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Há um diálogo aqui, mas não ouso indicar quem fala ou quanto diz,
não sei o que nos separa.
Era a chegada à igreja central. Ela sai do barco da escrita e participa da cerimônia à espera dos lobos.
Observa os padres sem espinhos, à procura do lobo final, o lobo cansado do dia, trazendo a mulher arrastada da floresta, onde a última coisa era ser mãe, era o gosto do perigo que valia, se fosse a última viagem, mesmo fraca, o alimento daria ao outro, mesmo caindo de sede, até a próxima cheia,
No entanto, era mãe.
Do cabelo arrancado, da loba musical, dos sapatos jogados contra a parede. Era a louca
Daquele rastro que não mais serviria. Toda manhã um novo cheiro. Misturado ao mar. Era preciso escavar o próprio. Porque se deita? Não importava ter duas ou três pernas,
medo e escolha saíam da mesma fonte. Não se pode, mas se vai,
ao sepulcro, verificar se o corpo está morto. E eis que
seja de ouro, na neve, debaixo do guarda-chuva, aos trapos
olha-se para dentro de um acontecimento. Os sinais, o tamanho da pegada de um livro, o tropeço na letra, a mordida silenciosa
e ouve-se os segredos da fome espalhada na história.
Para a planta que desejava ser humana,
Só o cão preto entenderia seu último grito. Arrancar a mulher de seu ofício é desastre
Pois o lobo rastreia a carne estranha. Soca o visitante na garganta da terra
e desta grande dor verte uma linguagem para
perfurar a janela
Estirpar o silêncio das famílias com seus caninos inusuais.
Quando o texto é amante da mulher,
Vive-se pelo encontro com o homem que não seja eterno
Para conviver com a novidade do desenho imenso:
O amor da língua não é convite
E como chamar o pedido de sinceridade da terra? Escrita. Ela se repõe.
não sei o que nos separa.
Era a chegada à igreja central. Ela sai do barco da escrita e participa da cerimônia à espera dos lobos.
Observa os padres sem espinhos, à procura do lobo final, o lobo cansado do dia, trazendo a mulher arrastada da floresta, onde a última coisa era ser mãe, era o gosto do perigo que valia, se fosse a última viagem, mesmo fraca, o alimento daria ao outro, mesmo caindo de sede, até a próxima cheia,
No entanto, era mãe.
Do cabelo arrancado, da loba musical, dos sapatos jogados contra a parede. Era a louca
Daquele rastro que não mais serviria. Toda manhã um novo cheiro. Misturado ao mar. Era preciso escavar o próprio. Porque se deita? Não importava ter duas ou três pernas,
medo e escolha saíam da mesma fonte. Não se pode, mas se vai,
ao sepulcro, verificar se o corpo está morto. E eis que
seja de ouro, na neve, debaixo do guarda-chuva, aos trapos
olha-se para dentro de um acontecimento. Os sinais, o tamanho da pegada de um livro, o tropeço na letra, a mordida silenciosa
e ouve-se os segredos da fome espalhada na história.
Para a planta que desejava ser humana,
Só o cão preto entenderia seu último grito. Arrancar a mulher de seu ofício é desastre
Pois o lobo rastreia a carne estranha. Soca o visitante na garganta da terra
e desta grande dor verte uma linguagem para
perfurar a janela
Estirpar o silêncio das famílias com seus caninos inusuais.
Quando o texto é amante da mulher,
Vive-se pelo encontro com o homem que não seja eterno
Para conviver com a novidade do desenho imenso:
O amor da língua não é convite
E como chamar o pedido de sinceridade da terra? Escrita. Ela se repõe.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Um Romance de Formação- em capítulos
- as unhas e o encontro com a superfície arranhada
- caminhando na estrada, dizer sim na cama da mãe
- em plena entrega, superar a obscenidade nas palavras de uma nova língua
- o perigo de se amassar o crânio de um animal ou de uma criança
- o ridículo que sustenta a vida, a invenção constante do nós
- com quantos ódios se faz uma escrita?
- onde buscar generosidade e água torrencial longe de casa
- o abraço de despedida, sangue de crocodilo, no vazio de um grito escondido, se assume a falta de força
- do rompimento com o gesto de ruminar um eu
- sobre o uso de armas incorretas contra a vida. Se a arma é apenas de enfraquecimento, matar e comer. Não deixá-la agonizando.
- Da descida ao talo. E o regresso
- O que se faz quando o espírito quer mais do que jantar, quer comungar
- Do aprendizado da educação aonde não se educa
- do instante à morte: a opção pelos que se roçam
- caminhando na estrada, dizer sim na cama da mãe
- em plena entrega, superar a obscenidade nas palavras de uma nova língua
- o perigo de se amassar o crânio de um animal ou de uma criança
- o ridículo que sustenta a vida, a invenção constante do nós
- com quantos ódios se faz uma escrita?
- onde buscar generosidade e água torrencial longe de casa
- o abraço de despedida, sangue de crocodilo, no vazio de um grito escondido, se assume a falta de força
- do rompimento com o gesto de ruminar um eu
- sobre o uso de armas incorretas contra a vida. Se a arma é apenas de enfraquecimento, matar e comer. Não deixá-la agonizando.
- Da descida ao talo. E o regresso
- O que se faz quando o espírito quer mais do que jantar, quer comungar
- Do aprendizado da educação aonde não se educa
- do instante à morte: a opção pelos que se roçam
As filhas da acídia ao abaixarem suas cabeças sentem o aroma da laranja
e logo entendem que precisam de perfume. Todo o cenário se refaz em lucidez empoeirada
mas por vezes ocorre do cheiro alaranjado voltar, inesperado, por dentro da fala
e suas veias negras transportam a calda da fruta, queimando,
em xícara nova, colher de prata
ela, que queria ser vestido acomodado no armário,
reconhece a terra:
-tenho vivido como vivo?
-até onde um corpo suporta o corpo?
e a laranja entorna
no sumo da contradição
e logo entendem que precisam de perfume. Todo o cenário se refaz em lucidez empoeirada
mas por vezes ocorre do cheiro alaranjado voltar, inesperado, por dentro da fala
e suas veias negras transportam a calda da fruta, queimando,
em xícara nova, colher de prata
ela, que queria ser vestido acomodado no armário,
reconhece a terra:
-tenho vivido como vivo?
-até onde um corpo suporta o corpo?
e a laranja entorna
no sumo da contradição
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Livro das comunidades- Llansol
“A terceira coisa que mete medo é um corp’a’screver. Só os que passam por lá, sabem o que isso é. E que isso justamente a ninguém interessa.”
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Um diário
¨Pode-se viver completamente num mundo imaginado¨- esta frase me aconteceu nesta tarde. Estava a dormir, com meu livro de ressurreição ao lado,
Sim, posso dormir, mas ainda em total desconforto
Seria eu capaz de deixar o amor passar em branco caso fosse ele vivo e me acordasse nesta tarde? Eu me furtaria da escrita se ela fosse transbordo?
Não demoro a preencher,
mas o recipiente parece ser de grande volume.
Viver completamente no mundo imaginado? Corpo coberto comunga? Eis a pergunta, deitada de vestido, nua por baixo, para que o encontro, mesmo que sonolento, encarado de frente,
Aconteça.
A escrita se apresenta como o caminho por onde as pernas dançam. A censura não será maior que a música
Tenho me movido por muitas ideias,
Comparecido a belos encontros de quase inauguração, mas nada me convoca mais que este jogo que vai correndo entre os dedos,
Já não sei se a poesia me alarga
Ou me arrasa. Estou presa num fluxo de linguagem, de fala densa, cifrada, que explode em companhia dos olhos de alguém.
É preciso retirar-se da frente e ser passagem. Ou paisagem. Abandono da separação de estados e reinos.
Não consigo deixar de olhar para o animal que come. E todos parecem mais famintos que eu,
Atraio-me neste desespero que sacia
enquanto descrevo a página parece diminuir, esforço.
Descobri a cortina por onde olha o gato. Ele sabe que o quero,
Nos amamos e isto é lucidez. Eis que chega sempre a um mesmo ponto e desaparece. Qual a curiosidade, saberei a hora de voltar? Deixou um rastro ou dormirá esta noite ao relento?
Sim, posso dormir, mas ainda em total desconforto
Seria eu capaz de deixar o amor passar em branco caso fosse ele vivo e me acordasse nesta tarde? Eu me furtaria da escrita se ela fosse transbordo?
Não demoro a preencher,
mas o recipiente parece ser de grande volume.
Viver completamente no mundo imaginado? Corpo coberto comunga? Eis a pergunta, deitada de vestido, nua por baixo, para que o encontro, mesmo que sonolento, encarado de frente,
Aconteça.
A escrita se apresenta como o caminho por onde as pernas dançam. A censura não será maior que a música
Tenho me movido por muitas ideias,
Comparecido a belos encontros de quase inauguração, mas nada me convoca mais que este jogo que vai correndo entre os dedos,
Já não sei se a poesia me alarga
Ou me arrasa. Estou presa num fluxo de linguagem, de fala densa, cifrada, que explode em companhia dos olhos de alguém.
É preciso retirar-se da frente e ser passagem. Ou paisagem. Abandono da separação de estados e reinos.
Não consigo deixar de olhar para o animal que come. E todos parecem mais famintos que eu,
Atraio-me neste desespero que sacia
enquanto descrevo a página parece diminuir, esforço.
Descobri a cortina por onde olha o gato. Ele sabe que o quero,
Nos amamos e isto é lucidez. Eis que chega sempre a um mesmo ponto e desaparece. Qual a curiosidade, saberei a hora de voltar? Deixou um rastro ou dormirá esta noite ao relento?
domingo, 9 de outubro de 2011
Cara Babette,
Encontro-me adequada a um vestido aberto
Vejo o corpo do cavalo branco a descer a vila com sol
Estive a escorrer no escuro, a trabalhar para encontrar frases
Mas a fome passa da imagem
Há semanas, Babette, neste convite, estou a deixá-las
para seguir o monte,
haverá chuva aonde vier. Viveremos juntas
Não há vestígio nisso. Última estadia
A sentir-me viva na aula, no encontro das águas,
suporto que o monte me olhe. E diga: Absolutamente
Nos falaremos,
nem silêncio nem palavra.
Compõe, Babette, uma mesa farta, a toalha
habita o pequeno cálice,
som da compreensão,
que eu te responderei:
sim, os mestres chamaram-me,
mas o pelo amarelo deste pássaro
cegou este nome
Estou condenada a retirar meus olhos com receio de descobrir-te,
Mas posso ouvir o espanto de sermos, Babette, esta legião.
Vejo o corpo do cavalo branco a descer a vila com sol
Estive a escorrer no escuro, a trabalhar para encontrar frases
Mas a fome passa da imagem
Há semanas, Babette, neste convite, estou a deixá-las
para seguir o monte,
haverá chuva aonde vier. Viveremos juntas
Não há vestígio nisso. Última estadia
A sentir-me viva na aula, no encontro das águas,
suporto que o monte me olhe. E diga: Absolutamente
Nos falaremos,
nem silêncio nem palavra.
Compõe, Babette, uma mesa farta, a toalha
habita o pequeno cálice,
som da compreensão,
que eu te responderei:
sim, os mestres chamaram-me,
mas o pelo amarelo deste pássaro
cegou este nome
Estou condenada a retirar meus olhos com receio de descobrir-te,
Mas posso ouvir o espanto de sermos, Babette, esta legião.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Tomas Tranströmer
" Os fios elétricos
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda música.
O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.
Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões"
(trecho de poema)
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda música.
O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.
Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões"
(trecho de poema)
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Escorrendo frases para aliviar o sangue
A poética é a manifestação do ser, não é privilégio de ninguém.
Todo homem é um visitado, recebe um chamado interior. O trabalho é colocar-se em disponibilidade.
Viver em potência contínua.
Quando a gente fecha o corpo, perde a aventura.
Crias estratégias para permanecer estranho e vivo. Errar no seu mais profundo, errar por febre.
O homem é capaz de superar a loucura.
É preciso fazer algo com o que sobra.
Não existe exercício mais doloroso do que deixar de ser. No entanto, não existe exercício mais sublime do que deixar ser.
Banir a guerra por uma sensibilidade.
O silêncio é isso. Falar das coisas do presente.
Apropriar-se da impropriedade que somos.
A palavra se esculpe com o testemunho. A palavra ornamento é o testamento do homem.
Com Estamira:
Para cada marca um mesmo remédio?? Não pode ser...
O céu é apenas o reflexo daqui de baixo.
Tem o lúcido, o ciente, o consciente e o Sentimento, que é o que grava.
Quem anda com Deus largou de morrer? Largou de passar fome?
As doutrinas trocadas ridicularizam o homem.
Sou ruim, mas não perversa.
Tem o eterno, o infinito, o além e o além do além.
Me trata como eu te trato que eu te retrato. Do contrário, eu te destrato.
Vocês não aprendem na escola. Na escola só se aprende hipocrisia e charlatanice. Vocês aprendem com as ocorrências.
Eu transbordei de raiva.
Tenho raiva dos fracos.
Não humilhar os restos que ainda não são.
Tudo o que é imaginado existe, é e tem.
Todo homem é um visitado, recebe um chamado interior. O trabalho é colocar-se em disponibilidade.
Viver em potência contínua.
Quando a gente fecha o corpo, perde a aventura.
Crias estratégias para permanecer estranho e vivo. Errar no seu mais profundo, errar por febre.
O homem é capaz de superar a loucura.
É preciso fazer algo com o que sobra.
Não existe exercício mais doloroso do que deixar de ser. No entanto, não existe exercício mais sublime do que deixar ser.
Banir a guerra por uma sensibilidade.
O silêncio é isso. Falar das coisas do presente.
Apropriar-se da impropriedade que somos.
A palavra se esculpe com o testemunho. A palavra ornamento é o testamento do homem.
Com Estamira:
Para cada marca um mesmo remédio?? Não pode ser...
O céu é apenas o reflexo daqui de baixo.
Tem o lúcido, o ciente, o consciente e o Sentimento, que é o que grava.
Quem anda com Deus largou de morrer? Largou de passar fome?
As doutrinas trocadas ridicularizam o homem.
Sou ruim, mas não perversa.
Tem o eterno, o infinito, o além e o além do além.
Me trata como eu te trato que eu te retrato. Do contrário, eu te destrato.
Vocês não aprendem na escola. Na escola só se aprende hipocrisia e charlatanice. Vocês aprendem com as ocorrências.
Eu transbordei de raiva.
Tenho raiva dos fracos.
Não humilhar os restos que ainda não são.
Tudo o que é imaginado existe, é e tem.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Aos nossos olhos,
observaria por aonde vai o sol, e passa a casa
Na travessia no acontecimento do estar só. Para saber o tamanho do corpo. Ou duas páginas em hiato.
Mas retornar inteira ao que havia escrito aos cinco anos de idade, com as pernas, com as doces pernas que cinco vezes nasce, cresce e desaparece
é impossível.
Admitir a continuidade exige o acabamento,
de lavar os pés da mesa,
a viver a própria experiência, pesadamente. Que acontece e olha, quando quer.
Encontrar na casa aberta
a casa criadora. A casa aberta fixada na parede de um sim. Estou há duas horas do meu nascimento e começo a bulinar na pedra. A fundir as igrejas do corpo e apaixonar-me por Ela.
Desce o cavalo que passa a roubar os eucaliptos na rua
Cresce a primavera,
Em costuragens
epidermias
libidinagens
Outros rios descem bulinando na pedra. E ela responde como pedra
Estamos de prontidão nas costas do amor, montado nele. Todos os tijolos querem ocupar-se plasticamente deste encontro
Eu me preparava para dizer frases cheias. No entanto, a gente sabe
como nascer
Imersa, mergulhada,
da luz baixa à alta
A espera em tecidos velhos, da casa criadora
As frases e os moldes. A tolice indigna. Descansando na xícara acesa
Há tantos homens nessas ruas, dizes. Olhando dentro da janela.
E tocas neles? pergunto. Como a janela os toca?
observaria por aonde vai o sol, e passa a casa
Na travessia no acontecimento do estar só. Para saber o tamanho do corpo. Ou duas páginas em hiato.
Mas retornar inteira ao que havia escrito aos cinco anos de idade, com as pernas, com as doces pernas que cinco vezes nasce, cresce e desaparece
é impossível.
Admitir a continuidade exige o acabamento,
de lavar os pés da mesa,
a viver a própria experiência, pesadamente. Que acontece e olha, quando quer.
Encontrar na casa aberta
a casa criadora. A casa aberta fixada na parede de um sim. Estou há duas horas do meu nascimento e começo a bulinar na pedra. A fundir as igrejas do corpo e apaixonar-me por Ela.
Desce o cavalo que passa a roubar os eucaliptos na rua
Cresce a primavera,
Em costuragens
epidermias
libidinagens
Outros rios descem bulinando na pedra. E ela responde como pedra
Estamos de prontidão nas costas do amor, montado nele. Todos os tijolos querem ocupar-se plasticamente deste encontro
Eu me preparava para dizer frases cheias. No entanto, a gente sabe
como nascer
Imersa, mergulhada,
da luz baixa à alta
A espera em tecidos velhos, da casa criadora
As frases e os moldes. A tolice indigna. Descansando na xícara acesa
Há tantos homens nessas ruas, dizes. Olhando dentro da janela.
E tocas neles? pergunto. Como a janela os toca?
as unhas estão plantadas
nos canteiros das páginas
e a fala de dentes tortos
comprime o espaço da sintaxe
-estar aqui pedia a repetição-
com o corpo em óleos quentes
eu me repetia como a pedra
aos nossos olhos:
a lembrança do tempo da conversa
e as duas faces de Deus
-o amor era a víscera do inesperado assunto-
nos canteiros das páginas
e a fala de dentes tortos
comprime o espaço da sintaxe
-estar aqui pedia a repetição-
com o corpo em óleos quentes
eu me repetia como a pedra
aos nossos olhos:
a lembrança do tempo da conversa
e as duas faces de Deus
-o amor era a víscera do inesperado assunto-
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Eu, a coletora de retalhos nasci para ocupar um nome
E chegar ao fôlego final no tempo gasto de um durante. Aos oito imaginava levitar
Hoje desço a ladeira carregando o poema
De enfiar o nome na terra e acolher o que cresce em cada migração
Só posso plantar o nome na escrita
Neste corpo que se encontra vivo, a descer a ladeira com sol. Estou a limpar,
Esculpi-lo vivo,
A lavar as roupas no quintal da terra
Bater, apertar, refazer a lâmina da voz
No limite de arrancar a musculatura da língua
Pois a roupa veste-se nova no branco da folha
da palavra humana ao absolutamente sim
E chegar ao fôlego final no tempo gasto de um durante. Aos oito imaginava levitar
Hoje desço a ladeira carregando o poema
De enfiar o nome na terra e acolher o que cresce em cada migração
Só posso plantar o nome na escrita
Neste corpo que se encontra vivo, a descer a ladeira com sol. Estou a limpar,
Esculpi-lo vivo,
A lavar as roupas no quintal da terra
Bater, apertar, refazer a lâmina da voz
No limite de arrancar a musculatura da língua
Pois a roupa veste-se nova no branco da folha
da palavra humana ao absolutamente sim
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
quarta-feira, 27 de julho de 2011
para Llansol
Vou amanhecer na hora das cebolas, nas camadas da pequena Teresa.
Chegar onde a água inunda.
E deitar sob os pés de alface daquela velha casa. A senhora, nas saias longas, me segue pelas cortinas.
Seus olhos me pediam para enfiar o filho de volta à terra
e curar o corpo na ferida da sala
Ela, galho forte nascido na estrada,
eu, pequena folha que se levanta no rastro animal
Aceito voltar à margem. Se nos plantarmos,
terrenos e territórios,
haverá o litoral.
Chegar onde a água inunda.
E deitar sob os pés de alface daquela velha casa. A senhora, nas saias longas, me segue pelas cortinas.
Seus olhos me pediam para enfiar o filho de volta à terra
e curar o corpo na ferida da sala
Ela, galho forte nascido na estrada,
eu, pequena folha que se levanta no rastro animal
Aceito voltar à margem. Se nos plantarmos,
terrenos e territórios,
haverá o litoral.
terça-feira, 19 de julho de 2011
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Retidão: veja,
não estamos na idade de pensar o mar, somos este. Passamos milênios a brincar de navegar os nomes, escuta. A Voz é aquela que roça o corpo nas folhas da palmeira. Não me convide a voltar à terra, descansar na ferida branca ou ninar as surpresas da areia. Eu vou,
mas para falar de joelhos, há duzentos anos, da casa térrea, robusta e líquida em que nos tornamos. Mesmo sem querer.
não estamos na idade de pensar o mar, somos este. Passamos milênios a brincar de navegar os nomes, escuta. A Voz é aquela que roça o corpo nas folhas da palmeira. Não me convide a voltar à terra, descansar na ferida branca ou ninar as surpresas da areia. Eu vou,
mas para falar de joelhos, há duzentos anos, da casa térrea, robusta e líquida em que nos tornamos. Mesmo sem querer.
sábado, 18 de junho de 2011
sábado, 4 de junho de 2011
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Nos seus vinte e cinco anos, Vitória era aparente. Quando parada, um arco se constituía entre as pernas e a coluna, estridente e fina. Por mais que se respeitasse sua história, seu corpo não era coisa só. Tinha perguntas sem abrir a boca, amanhecia quando dizia seu nome. Quem a via, achava que tomava o todo dela, por este jeito separado, não elegante. Mas era mesmo difícil de entender. Aquele corpo tinha algo que parava, represa cheia e uma barragem. Cada tábua era uma aposta. De não duvidar da correnteza. Para não agonizar asperezas.
Era difícil aceitar que a coisa era. Que eu só sabia escrever, de um jeito ou de outro, de pronto. E resvalava. Eu sei que fica, e dói assinar um cheque, ou entrar na casa que sempre foi sua, tamanho inteiro, mesmo lembrando que a roupa da criança estava suja. E Simplesmente. E escrever assim não é proibido. É a mão. E logo atrás aparece outra. Tal é o valor, sem mais ou menos. E isso me valia a alma sem revés. Pela primeira vez.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
sábado, 21 de maio de 2011
sexta-feira, 20 de maio de 2011
quinta-feira, 19 de maio de 2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
quinta-feira, 12 de maio de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
sexta-feira, 8 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
quarta-feira, 30 de março de 2011
Antonio Ramos Rosa
Estou vivo e escrevo sol
Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol
Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol
A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida
Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maraviha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde
Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol
Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol
A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida
Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maraviha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde
sexta-feira, 25 de março de 2011
Como um corpo salgado de tanto escavar a luz
sinto que transitas
passas apressado, a folha cai
uma voz cristaliza-se na janela
Por aqui as abelhas vivem para tocar trombetas
abrem os ouvidos em soluços e solstícios
na procissão de flores suicidas ao mar
encontro o lugar da montanha onde a neve pára
neste aconteço de perder e achar
é bem mais perto meu lugar de risco
sinto que transitas
passas apressado, a folha cai
uma voz cristaliza-se na janela
Por aqui as abelhas vivem para tocar trombetas
abrem os ouvidos em soluços e solstícios
na procissão de flores suicidas ao mar
encontro o lugar da montanha onde a neve pára
neste aconteço de perder e achar
é bem mais perto meu lugar de risco
quinta-feira, 24 de março de 2011
Roberto Juarroz
Cada poema faz esquecer o anterior,
apaga a história de todos os poemas,
apaga a sua própria história
e até apaga a história do homem
para ganhar um rosto de palavras
que o abismo não apague.
Também cada palavra do poema
faz esquecer a anterior,
desfilia-se por um momento
do tronco muitiforme da linguagem
e reencontra-se depois com as outras palavras
para cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem.
E também cada silêncio do poema
faz esquecer o anterior,
entra na grande amnésia do poema
e vai envolvendo palavra por palavra,
até sair depois e envolver o poema
como uma capa protectora
que o preserva dos outros dizeres.
Nada disto é raro.
No fundo,
também cada homem faz esquecer o anterior,
faz esquecer todos os homens.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são últimas coisas.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são também as primeiras.
Roberto Juarroz, In Poesia Vertical
(trad. Arnaldo Saraiva)
apaga a história de todos os poemas,
apaga a sua própria história
e até apaga a história do homem
para ganhar um rosto de palavras
que o abismo não apague.
Também cada palavra do poema
faz esquecer a anterior,
desfilia-se por um momento
do tronco muitiforme da linguagem
e reencontra-se depois com as outras palavras
para cumprir o rito imprescindível
de inaugurar outra linguagem.
E também cada silêncio do poema
faz esquecer o anterior,
entra na grande amnésia do poema
e vai envolvendo palavra por palavra,
até sair depois e envolver o poema
como uma capa protectora
que o preserva dos outros dizeres.
Nada disto é raro.
No fundo,
também cada homem faz esquecer o anterior,
faz esquecer todos os homens.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são últimas coisas.
Se nada se repete igual,
todas as coisas são também as primeiras.
Roberto Juarroz, In Poesia Vertical
(trad. Arnaldo Saraiva)
quarta-feira, 23 de março de 2011
O nome Ângela pede um chapéu logo em seu início.
Sempre escolhi utilizá-lo sem acento, deixando-o à condição de acessório, que se junta ao principal.
Preferia deixar a coisa principal em repouso.
À medida que o próprio, específico e originário se instalava, percebi que é inútil viver sem
Desequilíbrio.
O acento deixa Ângela enfática. Pende para o começo, põe o topo da cabeça no alto.
E o chapéu acompanha o desenho do A.
Signo de estado em felicidade: Â.
Poderia usar  como ponto de exclamação.
Dois pés cravados no chão e uma cobertura na cabeça.
O chapéu é palavra de horizonte. Traz a orla da praia, brisa leve, horizonte marítimo. Como se chamasse a ventania para soltar-se a ela.
Meu pai sempre escreveu meu nome assim: Â N G E L A.
E eu sentia vergonha dessa evidência. No entanto, eu sabia, ÂNGELA é a boca de uma criança sorrindo na praia.
Sempre escolhi utilizá-lo sem acento, deixando-o à condição de acessório, que se junta ao principal.
Preferia deixar a coisa principal em repouso.
À medida que o próprio, específico e originário se instalava, percebi que é inútil viver sem
Desequilíbrio.
O acento deixa Ângela enfática. Pende para o começo, põe o topo da cabeça no alto.
E o chapéu acompanha o desenho do A.
Signo de estado em felicidade: Â.
Poderia usar  como ponto de exclamação.
Dois pés cravados no chão e uma cobertura na cabeça.
O chapéu é palavra de horizonte. Traz a orla da praia, brisa leve, horizonte marítimo. Como se chamasse a ventania para soltar-se a ela.
Meu pai sempre escreveu meu nome assim: Â N G E L A.
E eu sentia vergonha dessa evidência. No entanto, eu sabia, ÂNGELA é a boca de uma criança sorrindo na praia.
terça-feira, 22 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Domingo ao meio dia e a roseira era a única que faltava para a limpeza do canteiro. Nesta época suas flores crescem e logo se entregam como coisa amolecida, bojo aberto que não pende, insiste em abrir para cima. Eu olhava para tudo o que era seco e amarelo. E ao meu lado acontecia um corpo sem que eu soubesse seu início. Querendo a sombra, como mais uma folha escurecida pelo sol, vi um morcego pregado ao chão, massa achatada prestes a se abrir. Todo inteiro, coerente, tinha vontade. Meu corpo exposto levantava-se de mim, como num esforço de se por em asas.
Era imagem do horrível. Eu só saberia mata-lo. Eu só saberia abafar a brasa antes de começar a aquecer-me. Impossível deixa-lo, era a certeza da expansão. Aquela fisicalidade espalhava–se pelo meu passado e retirava-o como broto, cada pústula que se abria banhava-me de um tempo novo, um tempo do ato. Era vivo, era um morcego vivo que eu sentia. Intransmissível e meu. Como a roseira, continuo no morcego que foi. E no animal que fica.
Era imagem do horrível. Eu só saberia mata-lo. Eu só saberia abafar a brasa antes de começar a aquecer-me. Impossível deixa-lo, era a certeza da expansão. Aquela fisicalidade espalhava–se pelo meu passado e retirava-o como broto, cada pústula que se abria banhava-me de um tempo novo, um tempo do ato. Era vivo, era um morcego vivo que eu sentia. Intransmissível e meu. Como a roseira, continuo no morcego que foi. E no animal que fica.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
esforço
Saber o tamanho de um pássaro disponível
andar sob a linha de pesca
deitar os olhos nas larvas que se enrolam
e o que se tem
Adequar o vestido para a ocasião de nascer
Nascer agora, sob uma espécie de ventania
Empurrando os mortos para os muros, murmúrios
Ócio divino do existir
Estudo as horas que se cercam de círculos
Ando com o pó de flor cingindo as ruas
e sei como duas orelhas se tocam no amor
Era por minha conta: raspar os restos de uma fome real e devolver no cio qualquer prato de abelha quente
andar sob a linha de pesca
deitar os olhos nas larvas que se enrolam
e o que se tem
Adequar o vestido para a ocasião de nascer
Nascer agora, sob uma espécie de ventania
Empurrando os mortos para os muros, murmúrios
Ócio divino do existir
Estudo as horas que se cercam de círculos
Ando com o pó de flor cingindo as ruas
e sei como duas orelhas se tocam no amor
Era por minha conta: raspar os restos de uma fome real e devolver no cio qualquer prato de abelha quente
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
quando você vem
venta o tempo para longe
macaco escorrega o dia a prender-se, emaranhar-se de abraços
luz amarela a parte branca do riso
lento leque a sorrir
abrindo
matas que transpiram calafrios
lâmina seca debaixo dos pés, a fio
clareira
chegada em estado prematuro
parada em dia santo, volume de vida azul
passa por mim tudo o que abre. Sou boca de girassol,
tiro de rifle, bíblia sagrada
quando é você
que vem
venta o tempo para longe
macaco escorrega o dia a prender-se, emaranhar-se de abraços
luz amarela a parte branca do riso
lento leque a sorrir
abrindo
matas que transpiram calafrios
lâmina seca debaixo dos pés, a fio
clareira
chegada em estado prematuro
parada em dia santo, volume de vida azul
passa por mim tudo o que abre. Sou boca de girassol,
tiro de rifle, bíblia sagrada
quando é você
que vem
Assinar:
Postagens (Atom)