de tanto chamares, a palavra vem
o que espera
como folha reticente ao vento
neste ano arde em campo e selva
inventemos um deus
como a manhã sem planos
que fala antes da primeira
vez da intimidade vasta
eu não sou o mistério
o que morre, não está aqui
nesta clara noite
esfreguei as mãos nas paredes
encontrei a carnadura das casas
se morro hoje, nada guardo
avanço lentamente
por onde olho, vejo-me no que voa
e busco, no golpe preciso
o gosto da terra firme
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
aquilo que trazes com o sim
quatro mãos em precipício
faz o rosto mover-se lentamente
como um boi mastigando o vago
-sou um a mais de mim-
das rebeliões passadas
trago apenas o dorso enrugado
insetos movem-se ao redor
transitam no pasto, dançam no vento
e eu rumino minha falta pressa
pois hoje visitou-me
a natureza em sede saciada
quatro mãos em precipício
faz o rosto mover-se lentamente
como um boi mastigando o vago
-sou um a mais de mim-
das rebeliões passadas
trago apenas o dorso enrugado
insetos movem-se ao redor
transitam no pasto, dançam no vento
e eu rumino minha falta pressa
pois hoje visitou-me
a natureza em sede saciada
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
se todas as maçãs rolassem ladeira abaixo
e a menina naquele vestido de algodão
ousasse chutá-las contra a parede
eu aceitaria minha amada aparição
ou um volume dágua ultrapassando
o limite do corpo
-estou em acúmulo-
assusto-me com a ventania debaixo da mesa
com a boca avermelhada que morde a casca
há uma mulher nascendo
amansando os nãos do mundo
escolhendo como alimento
a polpa que excede a fruta
e a menina naquele vestido de algodão
ousasse chutá-las contra a parede
eu aceitaria minha amada aparição
ou um volume dágua ultrapassando
o limite do corpo
-estou em acúmulo-
assusto-me com a ventania debaixo da mesa
com a boca avermelhada que morde a casca
há uma mulher nascendo
amansando os nãos do mundo
escolhendo como alimento
a polpa que excede a fruta
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
as chuvas deste temporal movem-se sempre
ora são metais, ora são facas que falam
mas há um corpo cortante
que atravessa todas as noites inseguras
quando estou próxima dos silêncios
desdobro-me em lençóis
como quem acabou de chegar de viagem
o vento que agora comemora
lutava contra a pele dormente
e removia a camada de sal que se aviltava
se chego às minhas margens
sinto vontade de levar os metais pesados à boca
minha natureza mole quer encontrar-se com as paredes
arrancar tudo o que não seja amor
e construir-se em cheiros trocados
deste paladar que não se cessa nunca
tendes alimentado-se com o seu desejo?
consegues me dizer o que em ti retorna sempre?
tendes provas de que sois ?
acolho o vento das maternidades
e arranco-o das janelas frias
e ele se faz em brasa
a cada sopro no meu ouvido
ora são metais, ora são facas que falam
mas há um corpo cortante
que atravessa todas as noites inseguras
quando estou próxima dos silêncios
desdobro-me em lençóis
como quem acabou de chegar de viagem
o vento que agora comemora
lutava contra a pele dormente
e removia a camada de sal que se aviltava
se chego às minhas margens
sinto vontade de levar os metais pesados à boca
minha natureza mole quer encontrar-se com as paredes
arrancar tudo o que não seja amor
e construir-se em cheiros trocados
deste paladar que não se cessa nunca
tendes alimentado-se com o seu desejo?
consegues me dizer o que em ti retorna sempre?
tendes provas de que sois ?
acolho o vento das maternidades
e arranco-o das janelas frias
e ele se faz em brasa
a cada sopro no meu ouvido
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
há folhas caindo em meu copo
risos miúdos no travesseiro
há morada de pássaros azuis nos cantos do corpo
ou um nome só
acordado antes do sonho
consumindo-se em mordidas roubadas
vento nas coxas da moça
que distraidamente inicia a ladeira
sou um sendo
um gesto construído no teu
a juventude do seu amanhã
e vejo a natureza vindo
o inevitável do medo em estado de gozo
e sofro em ausências menores
o que agora me treme em certeza
-não serei menos que a única-
risos miúdos no travesseiro
há morada de pássaros azuis nos cantos do corpo
ou um nome só
acordado antes do sonho
consumindo-se em mordidas roubadas
vento nas coxas da moça
que distraidamente inicia a ladeira
sou um sendo
um gesto construído no teu
a juventude do seu amanhã
e vejo a natureza vindo
o inevitável do medo em estado de gozo
e sofro em ausências menores
o que agora me treme em certeza
-não serei menos que a única-
domingo, 22 de novembro de 2009
como cumprir o tempo da existência
descobrir as passagens da casa antiga, e passar por elas,
não sê-las, não habitar nada que não nos pertence?
esquece tua malha gasta
tece as vestes da fragilidade
outrora, sendo o oposto da dor
itinerário dos heróis que lês na penumbra da sala
sonha com eles, pede que intercedam em nosso auxílio
se queres saber como se anda no meio-fio,
desces e cola-te na terra
arranha teu corpo no chão
os que se amam devem rosnar ao mundo
jamais o diálogo sucumbirá à morte
o rio se apequena quando não nascemos em voz
a ti, meu inocente sonho,
escreverei confissões em cima da cama
encarnarei no rosto
o destino que me convoca
pois não me parece fácil
aceitar o recuo da vida
descobrir as passagens da casa antiga, e passar por elas,
não sê-las, não habitar nada que não nos pertence?
esquece tua malha gasta
tece as vestes da fragilidade
outrora, sendo o oposto da dor
itinerário dos heróis que lês na penumbra da sala
sonha com eles, pede que intercedam em nosso auxílio
se queres saber como se anda no meio-fio,
desces e cola-te na terra
arranha teu corpo no chão
os que se amam devem rosnar ao mundo
jamais o diálogo sucumbirá à morte
o rio se apequena quando não nascemos em voz
a ti, meu inocente sonho,
escreverei confissões em cima da cama
encarnarei no rosto
o destino que me convoca
pois não me parece fácil
aceitar o recuo da vida
domingo, 15 de novembro de 2009
A Extraordinária Aventura vivida por Vladimir Maiakóvski no Verão na Datcha
A tarde ardia em cem sóis
O verão rolava em julho.
O calor se enrolava
no ar e nos lençóis
da datcha onde eu estava,
Na colina de Púchkino, corcunda,
o monte Akula,
e ao pé do monte
a aldeia enruga
a casca dos telhados.
E atrás da aldeia,
um buraco
e no buraco, todo dia,
o mesmo ato:
o sol descia
lento e exato
E de manhã
outra vez
por toda a parte
lá estava o sol
escarlate.
Dia após dia
isto
começou a irritar-me
terrivelmente.
Um dia me enfureço a tal ponto
que, de pavor, tudo empalidece.
E grito ao sol, de pronto:
Desce!
Chega de vadiar nessa fornalha!
E grito ao sol:
Parasita!
Você aí, a flanar pelos ares,
e eu aqui, cheio de tinta,
com a cara nos cartazes!
E grito ao sol:
Espere!
Ouça, topete de ouro,
e se em lugar
desse ocaso
de paxá
você baixar em casa
para um chá?
Que mosca me mordeu!
É o meu fim!
Para mim
sem perder tempo
o sol
alargando os raios-passos
avança pelo campo.
Não quero mostra medo.
Recuo para o quarto.
Seus olhos brilham no jardim.
Avançam mais.
Pelas janelas,
pelas portas,
pelas frestas
a massa
solar vem abaixo
e invade a minha casa.
Recobrando o fôlego,
me diz o sol com a voz de baixo:
Pela primeira vez recolho o fogo,
desde que o mundo foi criado.
Você me chamou?
Apanhe o chá,
pegue a compota, poeta!
Lágrimas na ponta dos olhos
- o calor me fazia desvairar, eu lhe mostro
o samovar:
Pois bem,
sente-se, astro!
Quem me mandou berrar ao sol
insolências sem conta?
Contrafeito
me sento numa ponta
do banco e espero a conta
com um frio no peito.
Mas uma estranha claridade
fluía sobre o quarto
e esquecendo os cuidados
começo
pouco a pouco
a palestrar com o astro.
Falo
disso e daquilo,
como me cansa a Rosta,
etc.
E o sol:
Está certo,
mas não se desgoste,
não pinte as coisas tão pretas.
E eu? Você pensa
que brilhar
é fácil?
Prove, pra ver!
Mas quando se começa
é preciso prosseguir
e a gente vai e brilha pra valer!
Conversamos até a noite
ou até o que, antes, eram trevas.
Como falar, ali, de sombras?
Ficamos íntimos,
os dois.
Logo,
com desassombro
estou batendo no seu ombro.
E o sol, por fim:
Somos amigos
pra sempre, eu de você,
você de mim.
Vamos, poeta,
cantar,
luzir
no lixo cinza do universo.
Eu verterei o meu sol
e você o seu
com seus versos.
O muro das sombras,
prisão das trevas,
desaba sob o obus
dos nossos sóis de duas bocas.
Confusão de poesia e luz,
chamas por toda a parte.
Se o sol se cansa
e a noite lenta
quer ir pra cama,
marmota sonolenta,
eu, de repente,
inflamo a minha flama
e o dia fulge novamente.
Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
Gente é pra brilhar
que tudo o mais vá prá o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.
(trad: augusto de campos)
O verão rolava em julho.
O calor se enrolava
no ar e nos lençóis
da datcha onde eu estava,
Na colina de Púchkino, corcunda,
o monte Akula,
e ao pé do monte
a aldeia enruga
a casca dos telhados.
E atrás da aldeia,
um buraco
e no buraco, todo dia,
o mesmo ato:
o sol descia
lento e exato
E de manhã
outra vez
por toda a parte
lá estava o sol
escarlate.
Dia após dia
isto
começou a irritar-me
terrivelmente.
Um dia me enfureço a tal ponto
que, de pavor, tudo empalidece.
E grito ao sol, de pronto:
Desce!
Chega de vadiar nessa fornalha!
E grito ao sol:
Parasita!
Você aí, a flanar pelos ares,
e eu aqui, cheio de tinta,
com a cara nos cartazes!
E grito ao sol:
Espere!
Ouça, topete de ouro,
e se em lugar
desse ocaso
de paxá
você baixar em casa
para um chá?
Que mosca me mordeu!
É o meu fim!
Para mim
sem perder tempo
o sol
alargando os raios-passos
avança pelo campo.
Não quero mostra medo.
Recuo para o quarto.
Seus olhos brilham no jardim.
Avançam mais.
Pelas janelas,
pelas portas,
pelas frestas
a massa
solar vem abaixo
e invade a minha casa.
Recobrando o fôlego,
me diz o sol com a voz de baixo:
Pela primeira vez recolho o fogo,
desde que o mundo foi criado.
Você me chamou?
Apanhe o chá,
pegue a compota, poeta!
Lágrimas na ponta dos olhos
- o calor me fazia desvairar, eu lhe mostro
o samovar:
Pois bem,
sente-se, astro!
Quem me mandou berrar ao sol
insolências sem conta?
Contrafeito
me sento numa ponta
do banco e espero a conta
com um frio no peito.
Mas uma estranha claridade
fluía sobre o quarto
e esquecendo os cuidados
começo
pouco a pouco
a palestrar com o astro.
Falo
disso e daquilo,
como me cansa a Rosta,
etc.
E o sol:
Está certo,
mas não se desgoste,
não pinte as coisas tão pretas.
E eu? Você pensa
que brilhar
é fácil?
Prove, pra ver!
Mas quando se começa
é preciso prosseguir
e a gente vai e brilha pra valer!
Conversamos até a noite
ou até o que, antes, eram trevas.
Como falar, ali, de sombras?
Ficamos íntimos,
os dois.
Logo,
com desassombro
estou batendo no seu ombro.
E o sol, por fim:
Somos amigos
pra sempre, eu de você,
você de mim.
Vamos, poeta,
cantar,
luzir
no lixo cinza do universo.
Eu verterei o meu sol
e você o seu
com seus versos.
O muro das sombras,
prisão das trevas,
desaba sob o obus
dos nossos sóis de duas bocas.
Confusão de poesia e luz,
chamas por toda a parte.
Se o sol se cansa
e a noite lenta
quer ir pra cama,
marmota sonolenta,
eu, de repente,
inflamo a minha flama
e o dia fulge novamente.
Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
Gente é pra brilhar
que tudo o mais vá prá o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.
(trad: augusto de campos)
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
A ultima lição
talhada no fogo
esquecida no tempo
restava intacta
a última caixa
escultura esquecida
lassidez cultivada
nenhuma senha ou protocolo
Qual o preço a pagar pela dignidade?
aquele que ergue a resposta
remove a pedra
arranca o trinco
destrava a porta
arruína a cerca
e encontra uma vez mais
a pólvora incessante
do fio condutor do espírito
esquecida no tempo
restava intacta
a última caixa
escultura esquecida
lassidez cultivada
nenhuma senha ou protocolo
Qual o preço a pagar pela dignidade?
aquele que ergue a resposta
remove a pedra
arranca o trinco
destrava a porta
arruína a cerca
e encontra uma vez mais
a pólvora incessante
do fio condutor do espírito
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Emily Dickinson- tradução de Lucia Olinto
Crescimento do Homem - e da Natureza-
Gravita no interior-
A Atmosfera e o Sol o endossam-
Mas ele se move-só-
Cada um haverá de atingir-por si-
O seu difícil Ideal
Através da proeza solitária
De uma Vida Silenciosa-
Esforço - é a única condição-
A paciência de Si Mesmo-
Paciência de forças que se opõem -
E uma Crença intocada –
Contemplar – é da alçada
Da Platéia- Todavia.
Nenhum Reconhecimento
Acompanha a Operação.
Pressentimento – é aquela Sombra comprida – no gramado-
Indicativa de que os Sóis se vão –
O Aviso à Grama sobressaltada
De que está prestes a passar a Escuridão-
Gravita no interior-
A Atmosfera e o Sol o endossam-
Mas ele se move-só-
Cada um haverá de atingir-por si-
O seu difícil Ideal
Através da proeza solitária
De uma Vida Silenciosa-
Esforço - é a única condição-
A paciência de Si Mesmo-
Paciência de forças que se opõem -
E uma Crença intocada –
Contemplar – é da alçada
Da Platéia- Todavia.
Nenhum Reconhecimento
Acompanha a Operação.
Pressentimento – é aquela Sombra comprida – no gramado-
Indicativa de que os Sóis se vão –
O Aviso à Grama sobressaltada
De que está prestes a passar a Escuridão-
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Quero os nomes dos cegos quando as portas se fecham.
Vamos escorraçar os correios, debandar as cadeias e extrapolar a febre.
Dilacerante o rosto, dilacerante a vida.
Mova-me para o lado de fora, quero ser a outra que te deixa cru, sem malas de viagem. Vamos financiar bombas em pequena escala.
Larga meu casaco, não preciso dele agora. É a repulsa dos dias brancos que nos faz irmãos. Atropela-me a mentira.
Limpa o pó da minha cara.
Somos o vazio do mundo. Aceito esta roupa envenenada desde o dia em que te olhei e não me vi.
Vamos escorraçar os correios, debandar as cadeias e extrapolar a febre.
Dilacerante o rosto, dilacerante a vida.
Mova-me para o lado de fora, quero ser a outra que te deixa cru, sem malas de viagem. Vamos financiar bombas em pequena escala.
Larga meu casaco, não preciso dele agora. É a repulsa dos dias brancos que nos faz irmãos. Atropela-me a mentira.
Limpa o pó da minha cara.
Somos o vazio do mundo. Aceito esta roupa envenenada desde o dia em que te olhei e não me vi.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Flavio Viegas Amoreira
... sabia perfeitamente qual era a pergunta definitiva...
respostas são cartas pessoais.
somos todos
Edoardo,
o Ele de Nós.
respostas são cartas pessoais.
somos todos
Edoardo,
o Ele de Nós.
Anna Akhmátova (Antologia poética)
A última rosa
Posternar-me com a Morôzova,
dançar com a enteada de Herodes,
da pira de Dido subir aos céus com a fumaça,
depois, de novo, voltar na fogueira de Joana.
Estás vendo, Senhor, estou cansada
da vida, da morte e da ressurreição.
Leva tudo de mim; mas desta rosa escarlate
deixa que, uma vez mais, eu sinta o frescor.
Posternar-me com a Morôzova,
dançar com a enteada de Herodes,
da pira de Dido subir aos céus com a fumaça,
depois, de novo, voltar na fogueira de Joana.
Estás vendo, Senhor, estou cansada
da vida, da morte e da ressurreição.
Leva tudo de mim; mas desta rosa escarlate
deixa que, uma vez mais, eu sinta o frescor.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
o que amo mora na luz
e não haverá medida
para o centro da marcha
soar em meus cabelos
cheirando rosas grávidas.
A sacerdotisa,
guardiã do segredo,
removeu a pedra-
e o silêncio formulado
abaixo do vestido
é a sede revelada
nos brotos da margem.
exalando a fúria em prece:
-estou encontrada-
neste corpo ilícito
tecendo o peito sempre fresco
deste amor em estado de luz.
e não haverá medida
para o centro da marcha
soar em meus cabelos
cheirando rosas grávidas.
A sacerdotisa,
guardiã do segredo,
removeu a pedra-
e o silêncio formulado
abaixo do vestido
é a sede revelada
nos brotos da margem.
exalando a fúria em prece:
-estou encontrada-
neste corpo ilícito
tecendo o peito sempre fresco
deste amor em estado de luz.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Da revelação
na sala,
o casal habitual.
no quintal,
lençol na chuva.
da janela,
a criança assiste
o mesmo fim.
o casal habitual.
no quintal,
lençol na chuva.
da janela,
a criança assiste
o mesmo fim.
sábado, 5 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Do Inabordável
eu já era
Nos alicerces da casa de batismo
Na maçaneta que destravava os dias
a procura pelo fio
o desejo de amar o mundo
Nos alicerces da casa de batismo
Na maçaneta que destravava os dias
a procura pelo fio
o desejo de amar o mundo
Da Força
como se existisse um novo modo
de suportar a pena,
recusou a intervenção do pai,
-rejeitar o milagre não é pra qualquer um-
tomou para si o cálice
e o caminho do calvário
segue pedindo passagem.
de suportar a pena,
recusou a intervenção do pai,
-rejeitar o milagre não é pra qualquer um-
tomou para si o cálice
e o caminho do calvário
segue pedindo passagem.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
O Anticristo
as naturezas de lars von trier e tarkoviski são distintas:
e santa teresa dávila o sabia bem.
- há dois tipos de tanque cheio:
um de torneira aberta
e um outro inchado de água que nasce do ralo.
e santa teresa dávila o sabia bem.
- há dois tipos de tanque cheio:
um de torneira aberta
e um outro inchado de água que nasce do ralo.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Neste dia em que o calor cresce das paredes, fico desatenta à distração e aceito pensar nos caminhos que um dia levaram alguém à beatitude.
Quanto um espaço pode suportar o espalhar de um corpo?
Encosto nos quatro cantos da crença e ela me diz: sabia que me amavas! Vem! Confiante, respondo: queria conhecê-la melhor para dar notícias aos homens que te esperam.
E mais uma vez ela me escapa.
Não há nada a dialogar com a crença.
Quanto um espaço pode suportar o espalhar de um corpo?
Encosto nos quatro cantos da crença e ela me diz: sabia que me amavas! Vem! Confiante, respondo: queria conhecê-la melhor para dar notícias aos homens que te esperam.
E mais uma vez ela me escapa.
Não há nada a dialogar com a crença.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Da Acídia
Há dias em que encosto na mulher que sou. Como se dois fios desencapados encontrassem a ligadura da superação. Destravo a fome de séculos e o fogo se instala como aplauso. Quando amo a mulher que sou alcanço a tua redenção. Pois, para erguê-la viva, é preciso mil oblatas em ovação.
Do silêncio II
No banho, a moça
cala o corpo, enrubescida
--a mãe irrompe à porta
não vê a hora de ocupar-se,
uma vez mais,
das roupas de baixo da filha.
cala o corpo, enrubescida
--a mãe irrompe à porta
não vê a hora de ocupar-se,
uma vez mais,
das roupas de baixo da filha.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Andrei Tarkoviski- Esculpir o tempo
para ter forças nesta manhã...
"A procura como processo (e não há outra maneira de considerá-la) tem com a obra completa a mesma relação que existe entre a procura de cogumelos na floresta e a cesta cheia depois que eles foram encontrados. Somente esta última- a cesta cheia- é uma obra de arte: seu conteúdo é real e incontestável, ao passo que a busca na floresta continua sendo a experiência pessoal de alguém que gosta de caminhar e de tomar ar fresco."
"A procura como processo (e não há outra maneira de considerá-la) tem com a obra completa a mesma relação que existe entre a procura de cogumelos na floresta e a cesta cheia depois que eles foram encontrados. Somente esta última- a cesta cheia- é uma obra de arte: seu conteúdo é real e incontestável, ao passo que a busca na floresta continua sendo a experiência pessoal de alguém que gosta de caminhar e de tomar ar fresco."
Thomas Mann- A montanha mágica
prefiro pensar na linguagem desta maneira:
" coloquemos assim: um fenômeno espiritual- isto é, significativo-
é significativo exatamente porque extrapola seus próprios limites, e atua como expressão e símbolo de algo espiritualmente mais vasto e mais universal, todo um universo de sensações e idéias corporificadas em seu interior com maior ou menor felicidade- eis aí a medida de sua significação".
Thomas Mann, A montanha mágica
" coloquemos assim: um fenômeno espiritual- isto é, significativo-
é significativo exatamente porque extrapola seus próprios limites, e atua como expressão e símbolo de algo espiritualmente mais vasto e mais universal, todo um universo de sensações e idéias corporificadas em seu interior com maior ou menor felicidade- eis aí a medida de sua significação".
Thomas Mann, A montanha mágica
sábado, 20 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Fazia um calor cor de rosa. E o barulho abotinado dos pés tinha um passo preciso. As pedras já aguardavam pequenas, prontas a rolarem no meio seco de pó. Nenhuma ave rasgou, nenhum réptil umideceu o ar. No lugar da estrada, um repouso. E na respiração, a única via. Aqui é o teu silencio que toma corpo. E o que teima é certeza de saber, o quanto, ao menos um dia, vivemos.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Humano, demasiado humano Nietzsche
Os seres humanos como maus poetas:
Assim como, na segunda metade do verso, os maus poetas buscam o pensamento que se ajuste à rima, na segunda metade da vida, tendo se tornado mais receosas, as pessoas buscam as ações, atitudes e situações que combinem com as de sua vida anterior, de modo que exteriormente tudo seja harmonioso:
mas sua vida já não é dominada e repetidamente orientada por um pensamento forte, no lugar deste surge a intenção de encontrar uma rima."
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Nikita: filme de Luc Bresson
há que se usar duas coisas sem limites:
a feminilidade
e o que ela possibilita
a feminilidade
e o que ela possibilita
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Ó santa mãe que aceita
que ama e não duvida
acumula-me de cera
e derreta-me de tanto pacto
Ó mãe das pontes internas
das vísceras curadas
aceita-nos cheios de pães
e nós
Íris encorpada
deita-me na queda dágua
lança-me no morro gelo
suspende-me as horas
Isabel da espera
desrespeita-me
descubra-me o osso
pois já posso ruivar
a quem ?
a ti, a vós
nós todos impregnados
ajuntados e cravados
mais do que ressoa
revoa o corpo
da tua voz em mim
ateia-me, ateio-me
enfim
que ama e não duvida
acumula-me de cera
e derreta-me de tanto pacto
Ó mãe das pontes internas
das vísceras curadas
aceita-nos cheios de pães
e nós
Íris encorpada
deita-me na queda dágua
lança-me no morro gelo
suspende-me as horas
Isabel da espera
desrespeita-me
descubra-me o osso
pois já posso ruivar
a quem ?
a ti, a vós
nós todos impregnados
ajuntados e cravados
mais do que ressoa
revoa o corpo
da tua voz em mim
ateia-me, ateio-me
enfim
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