terça-feira, 29 de setembro de 2009

Flavio Viegas Amoreira

... sabia perfeitamente qual era a pergunta definitiva...
respostas são cartas pessoais.

somos todos
Edoardo,
o Ele de Nós.

Anna Akhmátova (Antologia poética)

A última rosa

Posternar-me com a Morôzova,
dançar com a enteada de Herodes,
da pira de Dido subir aos céus com a fumaça,
depois, de novo, voltar na fogueira de Joana.

Estás vendo, Senhor, estou cansada
da vida, da morte e da ressurreição.
Leva tudo de mim; mas desta rosa escarlate
deixa que, uma vez mais, eu sinta o frescor.
olhou para a chama
e avermelhou-se com ela.
a morte é amiga
há muito o que cumprir ainda.
Chegando em casa,
retira a cena do rosto
refaz a maquiagem
e ensaia o primeiro gole
no espírito brincalhão
do desejo.
Bacias d água
arremessadas no templo
e a velha descalça
que não sabia o que era pecar
esfregava o chão
denunciando a alvura
de seus homens santos.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

o que amo mora na luz
e não haverá medida
para o centro da marcha
soar em meus cabelos
cheirando rosas grávidas.

A sacerdotisa,
guardiã do segredo,
removeu a pedra-
e o silêncio formulado
abaixo do vestido
é a sede revelada
nos brotos da margem.

exalando a fúria em prece:
-estou encontrada-
neste corpo ilícito
tecendo o peito sempre fresco
deste amor em estado de luz.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

corais e açucenas
em temporal
vesti-me de barro
e restaurei paredes as úmidas
todas as vezes que endereço a certidão,
a casa migra outra vez.
Vivia em estado de volver
Pousava entre o armário
e o anônimo
ambos em vontade
de freqüentar-se.

domingo, 20 de setembro de 2009

deitamos lado a lado,
eu e a eternidade
ajeitamos nossos corpos
na mesa da confissão
e nada revelando-se
éramos a delicadeza da unção.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

-e revirava nas manhãs
sua fome de lobos noturnos-
aguerrida, saíra do quarto
ainda ofegante:
desfiara gritos e acusações
sempre no mesmo ponto

ajeitou seu vestido de flores
esticou as meias até o joelho,
arrumou o terço entre os dedos
sentou-se na sala
e entoou a primeira frase:
-eu, a filha da escolhida-
serei aquele instante
dito em todas as línguas
expandindo por todos os quartos
a moeda que nunca será gasta
a maldição mais delicada
o rastro inevitável no deserto
um sinal ainda quente
bem acima dos olhos

estive muito próxima
das flores plantadas
quando nasci

sou filha deste pão,
amanheço outra vez
neste pacto sob a rocha

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

queria desvendar
e ele Estava.

tentei contar o mundo
ameaçar objetos
dispor fileiras,

e ele Veio

Da revelação

na sala,
o casal habitual.

no quintal,
lençol na chuva.

da janela,
a criança assiste
o mesmo fim.

Do proibido

sou broto
do nosso amor
terra e raiz
-seiva de meio dia-
esboço do testamento
sobre a mesa
ao lado, a rendição.

- um toque-

o copo cai
a toalha desliza
veneno revogado

sábado, 5 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Do Inabordável

eu já era
Nos alicerces da casa de batismo
Na maçaneta que destravava os dias
a procura pelo fio
o desejo de amar o mundo

Da Histeria


: eis aí a tua nudez
eis aí a tua mulher

Da Força

como se existisse um novo modo
de suportar a pena,
recusou a intervenção do pai,

-rejeitar o milagre não é pra qualquer um-

tomou para si o cálice
e o caminho do calvário
segue pedindo passagem.

Da Precisão

quando me aproximo do espelho
tudo é vermelho entre nós.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A pergunta incessante de Jó


O Anticristo

as naturezas de lars von trier e tarkoviski são distintas:
e santa teresa dávila o sabia bem.
- há dois tipos de tanque cheio:
um de torneira aberta
e um outro inchado de água que nasce do ralo.
pacto mal feito
acima da terra:
água rompendo
debaixo dos pés.