terça-feira, 27 de abril de 2010

Ingeborg Bachmann

Coloca uma palavra
no vale da minha mudez
e planta florestas de ambos os lados,
para que a minha boca
fique toda à sombra.


de Ingeborg Bachmann em "O Tempo Aprazado"
(tradução de João Barrento e Judite Berkemeier)

domingo, 25 de abril de 2010

há sempre um olhar
que não se foi
cravado no Aberto
como se o amor fosse lento

sábado, 24 de abril de 2010

todos os barcos sairam do cais
e eu não sei voltar aí.

terça-feira, 20 de abril de 2010

repousava em seu pé. Era a minha parte da casa
até que as horas me chamavam
então eu partia até o último degrau
e me punha na ponta dos dedos
desprendendo-me no limite da noite

acompanhantes habituais
quase não me mexia
trazia nas mãos
a vontade de recontar uma história

rosto que se iluminava
como o sol descendo a cada salto

eu me renovava em cenário antigo
e tu, que conhecias todos os silêncios da terra,
perguntava-me:
quem dirá que jamais brotará a semente ?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cresce.
és a familiaridade de meu espírito.
quantas manhãs em hélice
hão de haver
até que o corpo caia
do poema
e viva em pedra removida
nos quatro cantos
de uma janela de abril?

domingo, 4 de abril de 2010

jogou a moeda no poço e ela caiu-lhe nas mãos. Como esperar a palavra certa, se a voz emerge no jorro da fala? Não se entra na vida ao nascer. Era invenção a cada outro.
E levantou-se, como o mar se ergue para alcançar o sol.