os primeiros a morrer foram os poetas,
em seguida dos andarilhos,
e, por último, os sem-aderência
caíram um por um,
deixando aparecer seus modos singulares de tombar
à medida que caíam,
tornavam evidentes os fios soltos de suas roupas,
suas dificuldades em segurar o que precisava ser detido,
e de soltar o que precisava partir
seus rostos, na primeira hora da morte,
adquiriam aquela aura de prazer e concentração
que a boca, em vida, emanava quando suas mãos encontravam seus próprios ofícios
mas antes de partir, disseram
os poetas: “é preciso que eu deixe de lutar pela justa medida do dizer com as réguas disponíveis”,
os andarilhos: “é preciso que eu volte a sonhar antes da embriaguez”,
e os sem-aderência: “de agora em diante, o mais simples será o mais belo.“
foi a primeira vez que as mãos reconheceram a existência das forças invisíveis
e as réguas, sonhos e belezas
seguiram inventando um mundo-hospital que lhe pertenciam integralmente
(e eu, que me encontro nos três, passei a morrer todos os dias três vezes para tentar chegar à hospitalidade)