quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Domingo ao meio dia e a roseira era a única que faltava para a limpeza do canteiro. Nesta época suas flores crescem e logo se entregam como coisa amolecida, bojo aberto que não pende, insiste em abrir para cima. Eu olhava para tudo o que era seco e amarelo. E ao meu lado acontecia um corpo sem que eu soubesse seu início. Querendo a sombra, como mais uma folha escurecida pelo sol, vi um morcego pregado ao chão, massa achatada prestes a se abrir. Todo inteiro, coerente, tinha vontade. Meu corpo exposto levantava-se de mim, como num esforço de se por em asas.
Era imagem do horrível. Eu só saberia mata-lo. Eu só saberia abafar a brasa antes de começar a aquecer-me. Impossível deixa-lo, era a certeza da expansão. Aquela fisicalidade espalhava–se pelo meu passado e retirava-o como broto, cada pústula que se abria banhava-me de um tempo novo, um tempo do ato. Era vivo, era um morcego vivo que eu sentia. Intransmissível e meu. Como a roseira, continuo no morcego que foi. E no animal que fica.

2 comentários:

Anônimo disse...

Como corpo que se é há que se viver tudo: vivo e espanto.

Luiza Christov disse...

Não é possível!!!!!!!!
um blog que se chama o sagrado a literatura...onde já se viu uma coisa tão do jeito da minha alma.
tenho que me aproximar desta mulher Angela.