quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

oração da manhã

É ao Espírito Criador a quem me devoto
Cumpro meu dia, deito-me cansada sem planos para amanhã
Ele me cava uma massa quente por dentro, que tem ouvidos e pulsação. Interrompe minha garganta quando se sente sufocado

É ele que me faz ter vontade de andar de mãos dadas com a rua
Olhar um rato e não me assustar
E ver um sapato jogado no meio da casa e estranhar a existência inteira

É ele que enrijece meu corpo como quem se esqueceu de doar
Que se debate na miséria do jornal
Que vai à cracolândia, à Gabriela Llansol e Jodorowsky como quem segura uma caneta

Que lê a terra
E arranca as palavras debaixo da unha
É ele, que retira a panela de arroz debaixo da chuva
e me devolve para a mesa da fome