sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

No ponto de ônibus, ouço a seguinte conversa:

- O batente da porta dos fundos de minha casa está apodrecendo. Vi que a madeira está quase sem tinta, com uma textura oca e úmida, quase se desfaz na mão. O batente está frouxo, mas não totalmente solto. Entre ele e a parede há uma fenda, um espaço por onde escorre uma poeira fina escura e,
Não consegui limpá-lo ontem. Ainda com o pano molhado na mão,
Coloquei o dedo naquela fenda e espalhei a poeira de dentro pela superfície do meu braço. Fiquei, por um instante, suspensa. Tinha luz.

E luz era a qualidade do desaparecimento.

A outra responde:
-Um animal quando vai morrer se recolhe. O homem, quando vai morrer, se recolhe das palavras. Não te parece estranho: por mais que a gente se esforce em dizer
o silêncio ainda será grande
pois o corpo é água
E as águas reverberam?

Um comentário:

Anônimo disse...

marco X no que à forma conduz com todo encanto e estranhamento!