aporia

bateram a liberdade na minha cara
gritaram-me: vai, você é livre!
toma teu corpo, segue atrás daquilo que quer
ninguém está a te impedir, ninguém!
e tem mais: sustenta o teu desejo
isso só você pode fazer,

e passe bem.

e eu a tentar imaginar o lugar seguinte,
para onde iria essa liberdade
se eu a tomasse pela mão ou, se a retirasse da face
e limpasse de uma vez por todas
abrindo todos os golpes de liberdade que já me foram atirados à cara

os poros certamente não estariam hidratados o suficiente
-nunca estão-
e tomar mais água me aumentaria o soluço

mas eu lembro de já ter lido em algum lugar
que, para a liberdade, não importa chegar
mas interromper as passagens,
mesmo a menor delas,
em que nos violentamos dia-a-dia