sábado, 3 de julho de 2010

o poeta

Como um cão, corre-lhes os domínios, detendo-se aqui e acolá; arbitrário em aparências e, no entanto, incansável; sensível aos assombros do superior, mas nem sempre: pronto para ser instigado, mas difícil de ser contido, é impelido por uma depravação inexplicável: em tudo mete o focinho úmido, nada deixando de lado; volta atrás, recomeça: é insaciável; de resto, come e dorme, mas não é isso que o distingue dos demais, e sim a inquietante obstinação em seu vício- esse gozo interior e minucioso, interrompido pelas corridas; assim como nunca se sacia com o que tem, também nunca o obtém rápido o bastante. Dir-se-ia mesmo que aprendeu a correr apenas para satisfazer o vício de seu focinho. p. 16. Elias Canetti, A Consciência das Palavras.

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