segunda-feira, 30 de março de 2020

nunca estive

nunca estive tão próxima da mesa, dos livros e dos objetos que elegi,
numa estive tão próxima de meu filho, da companhia do amante,
e, no entanto,
onde estou?

se a voz dessa época não me alcança,
se não consigo escutar seus fluxos e imagens?

é fato que o céu está diferente 
que descobri que tenho mais tomadas que preciso
que limpar a casa progride sem muitos desastres
e que encontro um pouco de sol acordando mais cedo

mas algo se alterou na janela
as coisas tinham uma sensualidade outra
essa paisagem não é mais para mim

como prosseguir 
se a natureza se cansou dessa língua, dessa medula de palavras
e me diz que não sou necessária
que não somos mais

e fecha os olhos
 pra tudo o que não for desaparecer


Um comentário:

Natanael Gomes de Alencar disse...

Sol nas palavras. Grato pelo ofuscar.